sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Istoé Gente

Uma das cantoras mais bem-sucedidas de sua geração, Roberta Sá lança Quando o Canto é Reza, em parceria com o Trio Madeira Brasil, e fala do trabalho e da carreira.


É COM DELICADEZA, mas firmeza na voz, que Roberta Sá pede silêncio a uma assessora da gravadora Universal Music logo quando começa a entrevista com Gente. O gesto confirma a fama da cantora de ser atenta a cada detalhe de seu trabalho.

Uma das intérpretes mais bem-sucedidas e cultuadas de sua geração, a artista potiguar - criada no Rio de Janeiro desde menina - parece mesmo ser exigente e dá a impressão de escolher cada palavra usada para falar de seu terceiro CD de estúdio, Quando o Canto É Reza, inteiramente dedicado ao repertório de Roque Ferreira, compositor baiano incensado por toda a MPB e gravado por um leque de intérpretes que vai de Zeca Pagodinho a Maria Bethânia. "É um disco de encontro", se apressa em conceituar Roberta, para reforçar a participação do Trio Madeira Brasil, formado por Ronaldo do Bandolim, Marcello Gonçalves e Zé Paulo Becker.

Os músicos vão dividir também o palco com a cantora na turnê que estreia em 27 de agosto, no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). "Já que o canto é reza, vou estrear oficialmente no maior templo da Bahia", graceja Roberta, que fala sobre o novo trabalho, revela que já não se deixa intimidar pelo palco e conta como é ter o disco produzido pelo marido, Pedro Luís.


*Como surgiu o interesse pela obra de Roque Ferreira, um compositor tão distante do seu universo carioca?
Esse projeto é antigo. Comecei a me interessar pela obra do Roque quando ouvi seu primeiro disco, Tem Samba no Mar (2004). Lembro do Yamandú (Costa, violonista) falando desse disco maravilhoso. Nosso primeiro contato foi quando liguei para ele, em 2006, para pedir músicas para meu segundo álbum (Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria, 2007).

*Você e o Trio Madeira Brasil mudaram a concepção de algumas músicas. O samba "Água da Minha Sede" ganhou um toque de maracatu.
Esse disco mostra nosso encanto pela obra do Roque, mas a ideia era essa mesma: fazer da nossa maneira. Quando o Canto é Reza é um disco de encontros. O trio em si já é um encontro de três músicos extraordinários. O disco é o encontro deles comigo e é também o nosso encontro com o Roque, que expressa sua visão particular sobre a música da Bahia, não é um pescador que faz música sobre o que vive no cotidiano.

*Não teve medo de perder o público que conquistou com seus discos anteriores ao gravar um compositor tão ligado a um universo específico?
Esse disco não foi gravado com a preocupação de enquadrar as músicas num formato pop. A gente quis abrir espaço para o instrumental do trio. O meu desejo como cantora é me permitir ter pluralidade. É permitir que um encontro como esse aconteça em disco. Sair do centro do eu é salutar. O disco expressa uma visão conjunta, não somente a minha. Mas ele não rompe com nada do que fiz antes, apenas abriu mais um caminho na minha história. Antigamente, havia muito mais encontros na música brasileira. Teve o Chico (Buarque) com a (Maria) Bethânia, o Chico com o Caetano (Veloso)... Sem saudosismo, acho que os artistas se encontravam mais. E isso é uma coisa boa para se recuperar.

*Você é uma das poucas cantoras de sua geração que conseguiu sucesso popular, se apresenta em casas lotadas. Se preocupou em manter isso?
Foi mais importante, para mim, pensar que o artista tem de se reinventar. Na hora de gravar um disco, (manter o sucesso) não pode ser uma preocupação. O único foco é a criação artística. É um clichê, mas eu acredito que, se fizer um trabalho com verdade, as pessoas vão entender melhor. Se não, vira enganação...

*Por que você acha que fez sucesso tão rápido?
Não acho que tenha sido tão rápido e não consigo dimensionar esse sucesso. As coisas aconteceram no tempo que tinham de acontecer. Para mim, é tudo fruto de um trabalho árduo, sem férias. Tenho uma relação de intimidade com o meu público. E tenho a sensação de que o público de agora é o mesmo do começo, só que bem maior. Meu público me viu crescer como artista.

*Por que escolheu Pedro Luís, seu marido, para produzir o disco?
Foi natural porque o Pedro já estava no projeto desde sempre. Quando o Roque veio ao Rio, eles se encontraram, Pedro entrou na roda e virou parceiro dele no "Mandingo", uma das músicas que eu gravei. O Pedro ter produzido o disco foi importante porque ele trouxe uma visão de fora, mas é uma pessoa com quem todo mundo já tinha intimidade.

*Mas como é ser produzida pelo marido? Não atrapalha a relação?
Foi natural porque a gente já trabalhava junto desde antes de namorar e de casar. Se ele não tivesse produzido o disco, aí é que seria problemático (risos), porque a gente ia ficar sem se ver. Nós nos internamos no estúdio, esquecemos de tudo quando fomos gravar o disco.

*No começo de sua carreira, você era tímida no palco, quase pedia desculpas por estar ali cantando. O palco ainda a intimida?
Não, eu adoro palco. Estar nele já não me preocupa nem me intimida. Já me sinto à vontade ao cantar e me divirto muito no palco. No começo, era inexperiente. O show de lançamento do meu primeiro disco (Braseiro, 2003) foi o quinto show que eu fiz na minha vida.

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