
Uma das intérpretes mais bem-sucedidas e cultuadas de sua geração, a artista potiguar - criada no Rio de Janeiro desde menina - parece mesmo ser exigente e dá a impressão de escolher cada palavra usada para falar de seu terceiro CD de estúdio, Quando o Canto É Reza, inteiramente dedicado ao repertório de Roque Ferreira, compositor baiano incensado por toda a MPB e gravado por um leque de intérpretes que vai de Zeca Pagodinho a Maria Bethânia. "É um disco de encontro", se apressa em conceituar Roberta, para reforçar a participação do Trio Madeira Brasil, formado por Ronaldo do Bandolim, Marcello Gonçalves e Zé Paulo Becker.

Esse disco não foi gravado com a preocupação de enquadrar as músicas num formato pop. A gente quis abrir espaço para o instrumental do trio. O meu desejo como cantora é me permitir ter pluralidade. É permitir que um encontro como esse aconteça em disco. Sair do centro do eu é salutar. O disco expressa uma visão conjunta, não somente a minha. Mas ele não rompe com nada do que fiz antes, apenas abriu mais um caminho na minha história. Antigamente, havia muito mais encontros na música brasileira. Teve o Chico (Buarque) com a (Maria) Bethânia, o Chico com o Caetano (Veloso)... Sem saudosismo, acho que os artistas se encontravam mais. E isso é uma coisa boa para se recuperar.
*Você é uma das poucas cantoras de sua geração que conseguiu sucesso popular, se apresenta em casas lotadas. Se preocupou em manter isso?
Foi mais importante, para mim, pensar que o artista tem de se reinventar. Na hora de gravar um disco, (manter o sucesso) não pode ser uma preocupação. O único foco é a criação artística. É um clichê, mas eu acredito que, se fizer um trabalho com verdade, as pessoas vão entender melhor. Se não, vira enganação...
*Por que você acha que fez sucesso tão rápido?
Não acho que tenha sido tão rápido e não consigo dimensionar esse sucesso. As coisas aconteceram no tempo que tinham de acontecer. Para mim, é tudo fruto de um trabalho árduo, sem férias. Tenho uma relação de intimidade com o meu público. E tenho a sensação de que o público de agora é o mesmo do começo, só que bem maior. Meu público me viu crescer como artista.
*Por que escolheu Pedro Luís, seu marido, para produzir o disco?
Foi natural porque o Pedro já estava no projeto desde sempre. Quando o Roque veio ao Rio, eles se encontraram, Pedro entrou na roda e virou parceiro dele no "Mandingo", uma das músicas que eu gravei. O Pedro ter produzido o disco foi importante porque ele trouxe uma visão de fora, mas é uma pessoa com quem todo mundo já tinha intimidade.
*Mas como é ser produzida pelo marido? Não atrapalha a relação?
Foi natural porque a gente já trabalhava junto desde antes de namorar e de casar. Se ele não tivesse produzido o disco, aí é que seria problemático (risos), porque a gente ia ficar sem se ver. Nós nos internamos no estúdio, esquecemos de tudo quando fomos gravar o disco.
*No começo de sua carreira, você era tímida no palco, quase pedia desculpas por estar ali cantando. O palco ainda a intimida?
Não, eu adoro palco. Estar nele já não me preocupa nem me intimida. Já me sinto à vontade ao cantar e me divirto muito no palco. No começo, era inexperiente. O show de lançamento do meu primeiro disco (Braseiro, 2003) foi o quinto show que eu fiz na minha vida.
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